SOU UM SER DAS TREVAS.

NEM ANJO, NEM DEMÔNIO,

SOU ALGUÉM QUE CULTUA A OBSCURIDADE DA ALMA,

QUE ATRAVÉS DA NOITE ESCURA

E POR VIAS DOLOROSAS CAMINHA.

ESTRADAS, VEREDAS TORTUOSAS...

SADISMO, PRAZER ME DOMINAM.

VENERANDO TODO O MAL

E TODA PERVERSÃO;

ZOMBANDO DA IMAGEM, CUSPINDO EM CRISTO.

REJEITANDO TODA ALIENAÇÃO,

IDEOLOGIAS, CONDENAÇÃO.

PRA VIVER COMO UM SER "PAGÃO"

TODA A LIBERTINAGEM,

AS ORGÍAS, AS LEGIÕES DE DEMÔNIOS

COM OS QUAIS COMPACTUO E FRATERNIZO

E PERDIÇÃO ME TORNO.

ME FAZEM MAIS SANTO!

JÁ NAO EXISTE PECADO,

JÁ NAO EXISTE CULPA,

SÓ A LIBERDADE DA ALMA!

VAGANDO NOITE À DENTRO...
CAMINHANDO COM PASSOS LENTOS,
OUVINDO O SOM SUAVE DO SILENCIO
REPLETO DE MINHA PRESENÇA.
RESPIRANDO ANSEIOS,
TRANSPIRANDO EM PENSAMENTOS,
QUE ME LEVAM DISTANTE E PRÓXIMO
DO QUE, SE QUERO, ESTOU.
E AO PENSAR... E AO SENTIR...
MINHAS A ANGÚSTIA, A AFLIÇÃO,
COMPANHEIRAS DE INSÔNIA E SOLIDÃO,
QUE AO PERCEBER-ME,
INDIVIDUALISTA, COMO SOU,
SE AFASTAM,
ESVAZIAM-SE DE MIM,
E ME DEIXAM SÓ COM MEUS DEMÔNIOS
QUE NEM MESMO EU OS SUPORTO,
QUE ME FAZEM PADECER
E QUE AO NASCER O DIA ME DOMINAM...

A Cruz

Há quem diga
A cruz é maldita,
Há quem diga,
Símbolo de vida.

Terror ao demônio,
Salvação aos cristãos,
Anti-cristianismo
Simbolizada, inversão...

Madeiro onde pecadores,
Santos padecem.
Idolatria, adoração,
Blasfêmia, rejeição.

De braços abertos,
A vida se esvai,
A morte se abraça,
Ao bem, ao mal se adere.

"Cruces", crux sacra
"Mihi lux",
Minha luz, minhas trevas...
Nessa noite escura padeço...

Dela não me vem a salvação,
A libertação.
Então me torno profanação,
Então me torno pecado.

Onde estão as respostas?
Doce ilusão!
"Lux tenebris lucet"
Escuridão!

Epifanía

Que as trevas desta noite não venham ofuscar a luz entristecida,
Existente em teu olhar,
E da treva irrompa logo o amanhecer,
Para o sol a tua agonia contemplar
O que a noite desde vosso entorpecer,
Tão brevemente tendo a lua a te invejar,
Não foi capaz de completar, satisfazer...

A quebra de um laço

Ontem te vi chorar,
Rolar por tua face a decepção,
A angústia,
A dor do abandono.

Por quê?
Por que desistiu de nós?
Por que não nos deu mais uma chance?

Ao contrário,
Lançou-se ao precipício,
Deu o corpo aos demônios
E a alma ao diabo.

Por que fez isso?
Não sabes que te venero
Oh doce anjo decaído
Não sabes que te quero bem?

Imensa dor me causastes...
Ao desistir de ti
Uma lança de dor
Transpassou minh'alma.

Por quê?
Por que desistiu de nós?
Por que estragou tudo?
QUEIME NO INFERNO...

O Que Sinto

O que sinto por você é algo profano,

Inconcebível para os santos...

Semblante de anjo,

Jeito de demônio,

Meu inferno neste mundo presente,

Que inflama e queima o coração gélido,

Que arde a alma no calor de quem ama

E que as "sombras do desamor" incandesce...

À quem há muito adormece,

Da morte à vida traz à nova trama...

Triste Obsceção

Estou vagando as cegas,
Correndo sem direção,
Em meio a escuridao
Do muito q se não vejo, não reconheço.
Buscando em vão o que passou
O que perdido está
Sem chance de resgate...
Minha triste obsceção!